
Drones, bombas, um magnicídio: pontos para entender a violência na Colômbia

O coquetel inclui ataques com drones, bombas e violência política. Estes são os ingredientes-chave para entender o delicado momento que a Colômbia atravessa a um ano das eleições presidenciais e em meio a negociações de paz frustradas.
Na quinta-feira (21), o país viveu um dia sangrento devido a ataques da guerrilha que deixaram cerca de vinte mortos. Um drone derrubou um helicóptero da Polícia pela primeira vez e um caminhão-bomba explodiu em plena luz do dia em uma rua movimentada de Cali, a terceira maior cidade do país.
A estes eventos se soma uma série de atentados recentes, incluindo o assassinato de um candidato presidencial, no que constitui a pior onda de violência em uma década.
Desde que chegou ao poder em 2022, o presidente Gustavo Petro aposta em negociar uma solução pacífica para o conflito com os grupos que não entregaram as armas após o histórico acordo de paz de 2016 com a guerrilha das Farc.
Segundo especialistas, os dois governos que sucederam a assinatura do pacto não conseguiram ocupar os territórios deixados pelos desmobilizados, permitindo a consolidação de outras organizações.
Analistas consultados pela AFP consideram que os ataques recentes não foram coordenados, mas refletem uma atomização dos grupos em guerra com o Estado e que disputam entre si o lucrativo espólio do narcotráfico.
"O que buscam é efetivamente colocar o governo nacional contra a parede e gerar um ambiente de insegurança que tem muito a ver com as eleições de 2026", diz Laura Bonilla, vice-diretora da fundação Paz y Reconciliación.
1.Drones
Diferentemente do uso sofisticado em guerras como a da Ucrânia, onde são registradas operações militares com drones "camicase", os guerrilheiros lançam explosivos artesanais usando drones comerciais.
São baratos, fáceis de usar, comprados pela internet e não regulamentados.
"Desde 26 de abril de 2024, quando foi registrado o primeiro ataque, até hoje, mais de 700 incidentes com drones teriam sido reportados", indicou uma fonte do Exército à AFP na quinta-feira.
As regiões infestadas por cultivos de entorpecentes no sudoeste do país e a fronteira com a Venezuela são os pontos mais afetados. Lá, o zumbido de um desses aparelhos é um sinal de alerta que assusta todos ao redor.
Embora normalmente sejam dirigidos contra forças de segurança, no meio disso dezenas de civis morreram, segundo o Comitê Internacional da Cruz Vermelha.
Entre janeiro e maio, a organização documentou 524 vítimas de artefatos explosivos, um aumento de 145% em relação ao mesmo período do ano anterior, impulsionado especialmente pelo uso de drones.
A organização registrou, nesse período, 137 feridos ou mortos por artefatos lançados, um aumento de 342%.
Na quinta-feira, a queda de um helicóptero nas montanhas de Antioquia (noroeste) após um ataque com drone alertou para um novo nível de sofisticação. Treze policiais morreram.
O Estado não utiliza drones de combate contra os insurgentes.
2.Sem paz
Especialistas apontam para o governo direitista de Iván Duque (2018-2022) como responsável por não implementar o acordo de paz e perder o momento crucial para retomar o controle do Estado em áreas remotas onde os grupos armados são autoridade de fato.
E, depois, ao governo de Gustavo Petro, o primeiro presidente de esquerda na história do país, por uma política de paz e segurança que não funcionou.
"Essas negociações não avançaram como deveriam avançar, uma estratégia muito mal planejada desde o início, sem objetivo claro, sem prazos definidos, sem passos estruturados. Isso permitiu aos grupos continuar operando enquanto se fortaleciam", disse à AFP Óscar Palma, professor na Universidad del Rosario.
A guerra se intensifica com o combustível da cocaína, que alcança picos históricos no país que mais produz a droga.
Em 2023, a produção de cocaína disparou 53%, atingindo 2.600 toneladas anuais, segundo a ONU.
3.Eleições de 2026
A violência marca a campanha para as eleições presidenciais e revive os fantasmas dos piores anos do conflito, que, no século XX, interrompeu com assassinatos a tiros as aspirações de cinco candidatos à Presidência.
"Qualquer atentado que mate civis significa que estamos falhando na inteligência" e "também que estamos falhando nas estratégias de negociação" de paz, explica Bonilla.
O senador Miguel Uribe, candidato favorito da direita, foi morto com dois tiros na cabeça.
Seu partido, o Centro Democrático, tradicionalmente defendeu a mão de ferro contra grupos armados sob a liderança do ex-presidente Álvaro Uribe (2002-2010).
O ex-presidente enfrenta, na primeira instância, uma condenação a 12 anos de prisão domiciliar por suborno em um caso sobre seus vínculos com violentas milícias paramilitares anti-guerrilha.
M.Arroyo--HdM