Congresso do Peru declara 'persona non grata' presidente do México
O Congresso peruano declarou nesta quinta-feira (6) a presidente do México, Claudia Sheinbaum, como "persona non grata" por sua "inaceitável ingerência em assuntos internos" do país ao conceder asilo político à ex-chefe de gabinete Betssy Chávez.
A moção, apresentada por partidos de direita, obteve 63 votos a favor, 33 contra e duas abstenções. O Congresso sustenta que a mandatária mexicana demonstrou uma postura hostil em relação ao Peru desde que assumiu o cargo, em outubro de 2024.
"Ficou claramente estabelecido que há uma ingerência não apenas em palavras e declarações que desprestigiam a nação peruana, mas também com este recente ato de concessão de asilo à senhora Betssy Chávez", disse o presidente do Congresso, Fernando Rospigliosi, em coletiva de imprensa.
O Peru rompeu relações diplomáticas com o México na segunda-feira, após o asilo concedido a Chávez, processada pelo fracassado golpe de Estado de dezembro de 2022 do ex-presidente Pedro Castillo.
Chávez permanece asilada na residência da embaixada mexicana, e o Ministério das Relações Exteriores avalia um pedido de salvo-conduto, informou o governo na quarta-feira.
"É inaceitável que o governo do México conceda asilo a esse tipo de pessoa. Também já havia concedido asilo à esposa de Castillo", acrescentou Rospigliosi, do partido de direita Força Popular.
- "Papelão internacional" -
Por outro lado, forças opositoras criticaram a decisão da maioria legislativa.
"Nos opomos veementemente, porque aqui, mais uma vez, fazem um papelão internacional ao romper relações com o país irmão México. Não querem respeitar o acordo sobre asilo diplomático que o Peru assinou desde 1954", disse o congressista do partido da bancada Socialista, Jaime Quito, durante o debate.
Após a ruptura das relações diplomáticas, o presidente interino José Jerí anunciou na noite de segunda-feira em sua conta no X que "“a encarregada da embaixada do México no Peru, Karla Ornela, foi informada pelo chanceler de que tem um prazo peremptório para deixar" o país.
O governo mexicano considerou "excessiva e desproporcional" a decisão de Lima e defendeu o asilo a Chávez como um "ato legítimo (...) e conforme o direito internacional", que não interfere "de forma alguma" nos assuntos internos do Peru.
Apesar da crise diplomática, o comércio bilateral permanece ativo.
Em março, começou o julgamento de Chávez e do ex-presidente Castillo pelo suposto crime de rebelião. O Ministério Público pede 25 anos de prisão para ela por ter participado, como ex-presidente do Conselho de Ministros, do suposto plano de Castillo.
Chávez responde ao processo em liberdade, enquanto Castillo cumpre prisão preventiva desde dezembro de 2022.
Em 7 de dezembro de 2022, Castillo anunciou sua decisão de dissolver o Congresso e convocar uma Assembleia Constituinte. Naquele mesmo dia, seria submetido a uma moção de vacância (destituição) sob acusações de suposta corrupção.
Sem apoio militar, ele acabou destituído com votos de bancadas de esquerda e direita e foi detido pela polícia quando se dirigia com sua família à embaixada do México em Lima. Sua esposa e seus dois filhos vivem desde então asilados nesse país.
O México mantém uma histórica tradição de acolher pessoas que denunciam perseguição política. Nos últimos anos, concedeu asilo a figuras como o ex-presidente boliviano Evo Morales e o ex-vice-presidente equatoriano Jorge Glas.
I.Soto--HdM